quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Irlanda: 5 - A Comida (Irish Food)



Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir. 
Sentir tudo de todas as maneiras. 
Sentir tudo excessivamente, 
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas .

Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

Acho que ninguém imagina a Irlanda como um destino gastronómico. Pelo menos eu não conheço depoimentos de turistas a explicarem que foi a comida que os fez vir à Irlanda ou foi esta uma das melhores recordações da sua viagem. É verdade que as outras memórias são bastante impressivas, pelo que isso ajuda a perceber e a relativizar a importância da comida na mais ocidental da ilhas britânicas. Contudo eles comem e comem muito. É esta, de resto, a primeira nota a realçar. As doses são em geral generosas, a comida é substancial, farta e forte. Na maior parte dos casos, uma porção pedida num pub, dá à vontade para duas pessoas, o que ajuda a tornar acessível a maioria das refeições mesmo para os depenados portugueses.

Breakfast

O dia começa com o irish breakfast (foto de cima). Este segue de perto o modelo inglês: bacon, black pudding (um tipo de morcela) salsichas e ovo estrelado, A coisa pode ainda ser completada por torradas com manteiga ou doce, para alem do sumo de laranja e do café ou chá. Nada mal para começar, heim? Esta é a ementa típica servida tanto nos hotéis como nos cafés e bakeries para quem não tenha o pequeno almoço incluído na diária.Foi o que aconteceu connosco na nossa estadia em Dublin. Tivemos então oportunidade de ver os dubliners no seu habitat. E sim, eles comem isto tudo ao pequeno almoço. Pela nossa parte ao fim do terceiro dia já estávamos fartos de tanta salsicha e black pudding e foi um Starbucks (quem diria!) que nos reconciliou com um café com leite e um croissant.


Almoço

Ao almoço, curiosamente, a refeição é mais simples. Vi muitos locais comerem simplesmente uma sopa, uma sandes ou uma salada. As sopas foram uma surpresa, não pela sua diversidade - percebemos depois que  eram quase sempre as mesmas em todo o lado - mas pela sua presença universal. A mais comum é o famoso chowder, uma sopa habitual no norte da Europa e nos países saxóncios, de peixe e marisco, feita com natas. É saborosa, nutritiva e os pedaços de peixe e marisco não são escassos. O curioso é que qualquer sopa na Irlanda vem sempre acompanhada de duas fatias de um óptimo pão escuro (soda bread) com dois pacotes de manteiga. O pão e a manteiga não são o equivalente ao couvert em Portugal pois assim que acabas de despachar a sopa, o empregado tende a recolher o pão e a manteiga, ainda que não utilizados. Foi um choque cultural ver a reacçao deles quando lhe pedimos para manter o pão na mesa no resto da refeição!


Ao jantar

A refeição mais copiosa é o jantar, que aqui começa cedo para os nossos hábitos. Nem quero acreditar o que se passará com os vizinhos espanhóis, mas a nós avisaram-nos repetidas vezes para nunca chegar tarde ao restaurante, o máximo dos máximos, 7h30/8h00! A oferta, tirando dois casos especiais, em Galway e Kenmare, onde havia a possibilidade de caprichar um pouco e escolher hipóteses uma pouco mais sofisticadas, era em geral repetitiva. Se opção era carne, tinhamos a spare ribs (o equivalente ao nosso entrecosto com molho bbq) ou então o irish stew (guisado de carne e legumes), substancial mas pouco apelativo ao olhar, convenhamos.


Sendo a Irlanda uma ilha, é natural que o peixe fosse abundante e disponível em todo o lado. E é! o modo de preparação é que é monótomo: fish & chips para todos os gostos.Há a versão popular do dito que é servida nos pubs e há versões gourmet em estabelecimentos mais finos, como foi o caso de um em Kinsale, uma bonita cidade piscatória no sul. Ainda hoje estou para perceber a lógica de juntar peixe frito com batatas fritas mas o facto é que o prato é transversal e omnipresente em toda a Irlanda. Por baixo do polme (estaladiço, reconheço!) está um peixe branco indiferenciado. Tal como se vê na foto, os fritos são em geral acompanhados de um esmagado de ervilhas e de um molho tipo aioli. A coisa come-se uma vez para experimentar e fica-se enjoado para o resto da viagem.


Vivam os mercados de rua!

Não estaria a ser justo neste relato pseudo-gastronómico se não fizesse referência aos mercados, sobretudo aos mercados de rua. São uma festa para os olhos: as cores, as formas e os cheiros despertam os sentidos e é um gosto ver as bancas encherem-se de produtores locais que vêm expor os seus produtos hortícolas, os queijos, os pickles, as frutas. Apetece trazer tudo para casa e desforrar a barriga de misérias.

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