quarta-feira, 11 de maio de 2016

Este treinador de futebol é um filósofo dos tempos modernos!


Vítor Oliveira de seu nome. Treinador de futebol com muitos anos de profissão, especializou-se nos ultimos tempos em levar equipas da 2ª liga a subir de divisão. Ano após ano, Vítor Oliveira pega em clubes pequenos mas ambiciosos e leva-os pelo íngreme trilho acima até alcançarem o objectivo sonhado: estar entre os grandes!. Não é fácil, presumo. Cada jornada é uma batalha, cada vitória um degrau, cada ponto perdido um escolho, mas no fim sobra a satisfação de jogadores, dirigentes, adeptos e populações. Mas o mais espantoso é que este brioso e competente profissional não fica ofuscado pelo êxito e recusa viver das glórias conquistadas. Atingido o objectivo de subir à 1ª divisão, ele não fica a colher os louros, as prebendas e as aclamações. Simplesmente, parte para outra. Aconteceu agora com o Desportivo de Chaves que há 17 anos militava no escalão secundário, viu confirmada a promoção antes da ultima jornada e já sabe que terá que mudar de treinador pois Vítor Oliveira declarou declinar a oferta para continuar. Para onde vai não sei. Um nova corrida, uma nova viagem!

Ora isto para mim é a ilustração mais evidente do célebre mito grego sobre Sísifo. Conhecem a história, presumo. Depois de uma série de ofensas aos deuses, Sísifo foi condenado por toda a eternidade a um castigo terrível: empurrar pelas suas mãos uma grande pedra montanha acima até ao cume e quando este, depois de grandes esforços, é alcançado, a pedra rola montanha abaixo e ele tem que começar tudo de novo. Outra e outra vez, para todo o sempre.

Albert Camus, escritor e filósofo francês, pegou neste mito e ilustrou com ele a sua teoria do absurdo. À primeira vista, a tarefa de Sisifo é um absurdo, um esforço sem sentido porque se sabe de antemão que é votado ao fracasso. Ele chega lá acima com o pedregulho mas este cai outra vez tornado assim inútil todo o esforço feito. E Camus vê aqui a busca de sentido de cada ser humano procurando conquistar uma felicidade e uma realização total que nunca acaba por alcançar, Tal como Sisifo, estamos todos condenados: grande parte da nossa vida é construída sobre esperanças do amanhã e afinal sabemos que no fim está a certeza da morte. Perante isto vale a pena o esforço? Camus acredita que sim, que é na realização da tarefa em si que temos que procurar a satisfação. É a subida que interessa, não o cume que não será atingido. E termina o seu ensaio com uma frase que li há muitos e muitos anos e que hoje ainda tenho presente. É preciso tornar, é preciso imaginar Sisifo feliz! O treinador Vítor Oliveira é de certeza feliz com o seu trabalho. Ele realiza-se na dureza do trabalho. É um exemplo para todos. Para mim, é o exemplo perfeito para aquilo que temos em mão.


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