segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Manchester By the Sea: a fragilidade da condição humana


Há filmes que vemos e descartamos no dia seguinte. Há filmes que nos divertem, outros que nos informam, alguns emocionam-nos. E depois há aqueles - poucos, muito poucos - que não conseguimos esquecer. Manchester By The See será um deles. Não porque seja um dos melhores filmes do mundo (não é!) mas porque nos toca de uma maneira tão poderosa, tão profundamente e tão intensa e que saímos da sala com um nó na garganta.

Não estamos a falar de um melodrama, de situações mirabolantes que só um argumentista criativo seria capaz de engendrar. Não, e é por isso que este filme é-nos quase insuportavelmente doloroso. Porque as situações retratadas são afinal banais, as personagens são vulgares e anódinas, ali não há heróis nem vilões, apenas gente como nós tocada por uma imensa tragédia sem culpa mas também sem remissão. Há uma contenção que percorre todo o filme e que acentua o impasse. Lembrei-me de uma tragédia Sófocles em que os deuses se divertem em colocar os pobres mortais em situações impossíveis e para as quais parece não haver saída. Mas o facto é que há, apesar de tudo a vida continua e seguimos em frente, carregando às costas um peso que não é igual para todos.

Este é um filme que vale pelos silêncios, pelas palavras não ditas, às vezes sussurradas outras só afogadas na dor. É um filme em que o trabalho dos actores se impõe e que só por si vale a deslocação. Casey Affleck é enorme, Michelle Williams brilhante e o "puto" Lucas Hedges uma revelação. É um filme sobre a natureza da nossa condição humana, sobre as pequenas vitórias e as grande derrotas, sobre as nossas frustrações mas também e sobretudo sobre a enorme capacidade de sobrevivência que é inerente à nossa espécie.
Um filme imperdível!

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