São vinhos, comidas e conversas, muitas conversas. A mesa é um local de partilhas, assim como este blog pessoal. Nota: As fotografias utilizadas neste blogue são na maior parte dos casos retiradas da internet. Se acaso alguma estiver protegida por direitos de autor, agradece-se que tal seja comunicado, a fim de ser retirada de imediato.
terça-feira, 12 de abril de 2016
Em Abrantes, nem tudo como dantes
Confesso ter alguma dificuldade em voltar a sítios onde fui feliz. O regresso traz sempre, inevitavelmente, uma catrefada de comparações das quais é raro sairmos imunes. É o caso de Abrantes, cidade que foi a minha casa durante aqueles anos críticos em que nos tornamos no que somos mas donde saí há muito. Proporcionou-se agora, durante as mini férias da Páscoa, revisitar alguns dos lugares que preenchem a memória desses tempos de juventude e primeira idade adulta. Está bonita a cidade, reconheço, centro histórico preservado e renovado, algumas zonas conquistadas pelos peões aos automóveis, outras mudanças de sentido mas quase tudo o resto como que conservado em formol. Porquê em formol? Porque tudo parece sem vida, sem pessoas, demasiado deserta para uma terra orgulhosa do seu centenário enquanto cidade. Eu sei que o centro económico se deslocou para outras zonas, os estudantes desapareceram do casco antigo e faz-me falta a sala de visitas que foi o café Pelicano, hoje transformada em mais uma triste loja de roupa.
No que à gastronomia diz respeito, houve evolução. Abrantes cidade nunca foi, valha a verdade, uma terra especialmente famosa pela sua restauração e os habitantes locais sempre procuraram outros sítios, alguns bem perto, quando o que se pretendia era "comer bem". Já não será agora assim, a avaliar pelos comentários e referencias que vi acumularem-se sobre o Santa Isabel, o restaurante na bonita rua do mesmo nome, mesmo em pleno centro histórico e que há muito procurava visitar. Calhou agora. A casa, num prédio tradicional, desdobra-se em três salas de refeição, divididas por dois pisos. O que poderia ser uma desvantagem (e será para os funcionários obrigados ao escada acima escada abaixo), acaba por criar um certo ambiente acolhedor e familiar que uma decoração rústica não põe em causa. A cozinha é de base regional e consegue uma feliz síntese de influências ribatejana, alentejana e beirã que reflecte bem a natureza de terra de transição que Abrantes sempre foi. Da beira Tejo, chegam-nos assim os peixes do rio como o sável e a sua açorda de ovas e a lampreia no seu tempo que convivem sem conflitos de maior com o cabrito assado, com os filetes de polvo com arroz de feijão ou o bacalhau no forno e o churraquinho de porco preto com migas de alheira, entre outras opções. No geral a confecção é cuidada, as matérias primas são de qualidade e trabalhadas com sensatez e gosto apurado. As sobremesas confirmam este registo de misturas de inspirações, embora pudessem traduzir melhor a riqueza doceira da região. Não vi as tigeladas de Rio de Moinhos nem a palha de Abrantes, muito menos a excelente lampreia de ovos que se fazia no Tramagal. A carta de vinhos é razoável e com preços sensatos mas é pena a recomendação de serviço ir para vinhos do Douro em vez de se puxarem pelos excelentes vinhos do Tejo, ali bem perto produzidos no Tramagal, ou no Sardoal, por exemplo. O serviço é amável, pese embora alguma lentidão e uma ou outra desatenção. No geral, um belo restaurante que merece uma visita de quem procura qualidade.
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Andaste lá na tropa ou no La Salle?
ResponderEliminarNo Liceu, Zé Tomaz. E depois dei aulas já no antigo La Salle.
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