sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Resultados do concurso Escolha da Imprensa





O Concurso Escolha da Imprensa
Deve ser um caso raro em qualquer parte do mundo uma publicação especializada em vinhos, como a Revista de Vinhos, convidar colegas dos media para virem provar vinhos connosco. É contudo uma ideia que nasceu já no ano 2004 e que, de então para cá, temo-la visto crescer e consolidar. Porque o fazemos? Não certamente porque precisamos de ajuda na tarefa árdua e exigente de provar vinhos. Fazemos isso todos os dias e os nossos provadores são profissionais altamente experimentados, qualquer deles com muitos anos de treino e que fazem da avaliação de vinhos uma componente importante da sua profissão.

Mas ao organizar um grande evento como o é o Encontro Com o Vinho, achamos importante que a maior feira do vinho feita em Portugal possa transpor barreiras de comunicação e alguns dos melhores vinhos que ali se apresentam aos consumidores possam também ter o máximo de divulgação possível por toda a imprensa. Por isso, desde o início, pretendemos que o concurso não se centrasse na equipa da Revista de Vinhos e que integrasse um júri que não fosse unicamente constituído por especialistas em prova. Um concurso que estivesse mais próximo do consumidor de vinhos, que alargasse o leque de opiniões a pessoas que fossem apreciadores frequentes e interessados, tal como muitos dos nossos leitores. Ao longo dos anos fomos conhecendo vários enófilos na comunidade jornalística portuguesa. Alguns são jornalistas que escrevem regularmente sobre vinhos, mas muitos outros fazem do vinho uma paixão e não a sua profissão. Os convites foram enviados e o entusiamo das respostas não tardaram. Nesta edição de 2016 tivemos a presença de 37 jornalistas e bloggers que provaram cerca de 350 amostras! Os jurados levaram a prova muito a sério e empenharam-se em dar o melhor de si. Os resultados que foram anunciados hoje no Encontro Com o Vinho falam por si e comprovam o rigor com que trabalharam. 

E as conclusões a que chegaram foram estas:

Grandes Prémios "Escolha da Imprensa" (Um por cada categoria)


ESPUMANTES
Quinta da Calçada Colheita Imperial Minho Reserva (Agrimota Soc. Agrícola e Florestal)

BRANCOS
Dory Regional Lisboa Reserva branco 2014 (Adegamãe - Soc. Agrícola)

TINTOS
MR Premium Reg. Alentejano tinto 2012 (Soc. Agrícola D. Diniz

FORTIFICADOS
Kopke Porto Colheita 1966 (Sogevinus Fine Wines)


PRÉMIOS "ESCOLHA DA IMPRENSA" (10 vinhos por cada categoria, ordem alfabética)

ESPUMANTES
Cabriz Blanc de Noir Dão Touriga Nacional 2012 (Global Wines)
Marquês de Marialva Cuvée Bairrada 2011 (Adega Coop. de Cantanhede)
Montanha Grande Cuvée Baga-Bairrada 2012 (Caves da Montanha - A. Henriques)
Montes Claros Alentejo 2013 (Adega Coop. de Borba)
Murganheira Assemblage Távora- Varosa Grande Reserva 2002 (Soc. Agríc. Com. do Varosa)
Murganheira Cuvée Távora- Varosa Reserva Especial 2006 (Soc. Agríc. Com. do Varosa)
Murganheira Vintage Távora- Varosa 2007 (Soc. Agríc. Com. do Varosa)
Raposeira Blanc de Noirs Super Reserva 2011 (Caves da Raposeira)
Real Companhia Velha Pinot Noir-Chardonnay 2013 (Real Companhia Velha)
São Domingos Baga-Bairrada 2012 (Caves do Solar de São Domingos)

BRANCOS
Cortes de Cima Reg. Alentejano Alvarinho branco 2015 (Cortes de Cima)
Grandjó Douro Late Harvest 2012 (Real Companhia Velha)
Kopke Douro Reserva branco 2014 (Sogevinus Fine Wines)
Malhadinha Reg. Alentejano branco 2015 (Herdade da Malhadinha Nova)
Marquesa de Alorna Do Tejo Grande Reserva branco 2013 (Soc. Agrícola da Alorna)
Monte da Ravasqueira Reg. Alentejano Reserva branco 2015 (Soc. Agrícola D. Diniz)
Muros de Melgaço Vinho Verde Alvarinho branco 2015 (Anselmo Mendes Vinhos)
Quinta do Gradil Reg. Lisboa Chardonnay branco 2015 (Quinta do Gradil - Soc. Vitivinícola)
Terras do Grifo Douro Reserve branco 2015 (Rozès)
Varanda da Serra Dão branco 2014 (Ares do Dão Soc. Vitivinícola)

ROSÉS
Casa do Lago Reg. Lisboa rosé 2015 (DFJ Vinhos)
Covela Reg. Minho rosé 2015 (Lima & Smith)
H.O Douro rosé 2015 (Casa Agrícola Horta Osório)
Mil Caminhos Reg. Lisboa rosé 2015 (Multiwines)
MR Premium Reg. Alentejano rosé 2015 (Soc. Agrícola D. Diniz)
Pluma Vinho Verde rosé 2015 (Casa de Vila Verde Soc. Agrícola)
Quinta da Boa Esperança Reg. Lisboa rosé 2015 (Favorite Purple)
Quinta do Poço do Lobo Bairrada Baga-Pinot Noir Reserva rosé 2015 (Caves São João)
Terras do Pó Reg. Península de Setúbal rosé 2015 (Casa Ermelinda Freitas Vinhos)

TINTOS
1836 Companhia das Lezírias Do Tejo Grande Reserva tinto 2014 (Companhia das Lezírias)
Crochet Douro tinto 2014 (Esteban & Tavares)
Grandes Quintas Vinhas do Cerval Douro tinto 2012 (Soc. Agrícola Casa D´Arrochella)
Herdade São Miguel Reg. Alentejano Private Collection tinto 2012 (Casa Agrícola Alexandre Relvas)
Poliphonia Signature Reg. Alentejano tinto 2012 (Granacer)
Quinta de Pancas Reg. Lisboa Grande Reserva tinto 2012 (Quinta de Pancas Vinhos)
Quinta dos Murças Douro Reserva tinto 2011 (Murças)
Ribeiro Santo Dão Grande Escolha tinto 2011 (Magnum - Carlos Lucas Vinhos)
Três Bagos Douro Grande Escolha tinto 2011 (Lavradores de Feitoria)
Villa Oliveira Dão Touriga Nacional tinto 2011 (O Abrigo da Passarela)

FORTIFICADOS
Cabriz Ímpar Vinho Licoroso (Global Wines)
Churchill ´s Porto Vintage 2014 (Churchill Graham)
Henriques & Henriques Madeira Terrantez 20 Years Old (Henriques & Henriques -Vinhos)
Poças Porto Colheita 1992 (Manoel D. Poças Junior - Vinhos)
Quinta da Gaivosa Porto Tawny 20 anos (Domingos Alves de Sousa)
Quinta Seara d´Ordens Porto Tawny 20 anos (Soc. Agrícola Quinta Seara d´Ordens)
Rozès Porto Tawny 20 Years Old (Rozès)
Soalheira Porto Old Tawny 20 anos (Soc. dos Vinhos Borges)
Vasques de Carvalho Porto Tawny 40 anos (Vasques de Carvalho)
Vista Alegre Porto Vintage 2014 (Vallegre, Vinhos do Porto)

Parabéns a todos os premiados. 
Os vinhos estão disponiveis e podem ser provados no Encontro Com o Vinho e Sabores.

http://www.revistadevinhos.pt/artigos/show.aspx?seccao=noticias&artigo=22156&title=imprensa-portuguesa-escolheu-os-melhores-vinhos-em-concurso&idioma=pt

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Resistir



Fomos dormir ontem com o conforto de uma quase certeza e acordámos hoje no meio de um pesadelo. O mundo está inquietante, imprevisível e por isso mais perigoso. O que mais assusta é a vaga de populismo demagógico e faccioso que varre várias partes do globo e que a eleição de ontem tornou gritante e incontornável. É o criminoso de delito comum nas Filipinas, é o louco da Coreia do Norte, é o fanático desastrado da Venezuela, são os proto ditadores da Hungria e da Turquia, é o imperialista do Kremlin, é o inacrediváel brexit, é a ameaça Le Pen em França e o mais que aí virá. Como as tendências culturais costumam vir importadas da América, temo uma nova dark age a abater-se sobre nós. Vai muito além da política: são os juízes vitalícios para o Supremo Tribunal que vão impor uma nova agenda de costumes, é sobretudo uma moral assente no fundamentalismo evangélico que despreza a tolerância e teme o que é diferente. Há uma nova jiahd em formação, que se alimenta da outra, a islâmica, que não decapita cabeças mas destrói corações.

São tempos difíceis que estão aí. Os países a isolarem-se, as relações a esfriarem-se, os muros a erguer-se, o comércio internacional a retrair-se, manietado pelas medidas proteccionistas. Cada um por si e ganha o mais forte.

Que fazer? Resistir! Não há noite que sempre dure.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

O Galo de Barcelos e o triunfo do kitch


Provavelmente não serei bom português mas a verdade é nunca gostei do galo de Barcelos. E menos ainda consigo compreender a dimensão artística da obra de Joana Vasconcelos por muitos incensada.. Não lhe retiro os méritos, atenção. Tem olho para o negócio, um apurado sentido de marketing e uma capacidade notável para reinventar o lugar comum. Mas, apesar do cacilheiro, apesar de Versalhes e das muitas milhares de visitas, custa-me considerar aquilo como arte. São intervenções, serão happenings, serão acontecimentos mediáticos e populares mas à arte, no meu entender, exige-se um pouco mais: a expressão da beleza, uma certa criação do transcendente, uma perenidade que ultrapassa o contexto e fica para sempre.

Quando olhei para as obras anteriores de Joana Vasconcelos, em que o kitch é o traço dominante, dei por mim a pensar: só te falta mesmo o galo de Barcelos. E não é que ele aí está! Não um galo qualquer mas uma coisa enorme de 10 metros de altura, com 4 toneladas de peso, 17 mil azulejos e, para a coisa atirar assim para o modernaço, 16.000 leds. O triste é que alguém convenceu a Câmara de Lisboa ou o governo, ou sei lá quem, que aquele monstro feérico ficaria bem na Ribeira das Naus, junto ao Tejo amado e maltratado. Pop Galo lhe chamou a artista, inspirando-se no conceito da Pop Art que permite todas as revisitações e todas as cópias. Mas é também um sinal dos tempos. Os mesmos tempos em que a demagogia ganha terreno, o populismo avança,a imitação barata se sobrepõe ao original e os tablóides são campeões de vendas. É o triunfo do kitch.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

E o Vintage também chegou ao Bacalhau


Desenganem-se os que pensam que o bacalhau é todo igual. A Lugrade acaba de lançar no mercado um bacalhau de origem islandesa de cura prolongada a que chamou Vintage e que pretende ser um produto situado no segmento superior da sua oferta.

A designação Vintage explica-se, nas palavras dos responsáveis pela empresa, porque este bacalhau seco tem uma cura especial de 20 meses, bastante superior ao tempo médio habitualmente usado na seca. Vintage ainda porque não é um produto indiferenciado: a Lugrade escolheu este peixe em concreto, sabe exactamente quando e onde ele foi pescado, fez aí a selecção e, naturalmente, acompanhou todo o processo de salga e cura. Joselito Lucas, administrador comercial da empresa de Coimbra, contou numa apresentação aos jornalistas, que foi em 27 de Fevereiro de 2015, ao largo da baía de Keflavik, na Islândia, onde este espécime foi capturado, processado e salgado no próprio dia. Este método, que diverge de outras práticas habituais em que o peixe é primeiro congelado e só posteriormente salgado, confere, segundo explicou, um conjunto de características em termos de sabor e textura que o tornam de facto especial.

É já na sua fábrica em Coimbra que a Lugrade completa o longo processo de cura. Depois de 7 meses em sal, o gadídeo é inspecionado, atesta-se a sua qualidade e é lavado, seguindo-se a secagem em ambiente de temperatura controlada. Após este processo, o bacalhau inicia mais uma etapa de cerca de 12 meses, chamada repouso, onde adquire a textura e consistência desejada, antes de ser embalado.

No próprio embalamento do Vintage, a Lugrade também quis deixar uma marca especial. É apresentado inteiro, envolvido num saco de sarapilheira, e com um selo distintivo, lembrando os fardos onde o peixe antigamente era acondicionado.

O Lugrade Vintage 20 meses é um produto de luxo, do qual existem somente 2000 exemplares numerados, sendo naturalmente um pouco mais caro (20%) do que o bacalhau islandês de topo da empresa. A sua comercialização será feita em apenas alguns estabelecimentos selecionados. 

A apresentação do Lugrade Vintage decorreu num jantar no restaurante Tágide, em Lisboa, tendo a ementa sido confeccionada a quatro mãos pelo chefe residente, Nuno Diniz e por Diogo Rocha (Mesa de Lemos). 
A ementa feita para a ocasião constou de: Canja de Bacalhau com Uvas e Empada de Bacalhau em Massa Folhada, os dois primeiros pratos de Nuno Diniz. Seguiu-se o melhor prato da noite,  Lombos e Línguas de Diogo Rocha, onde o Lugrade Vintage pode expressar  todas as suas potencialidades. 

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Irlanda: 5 - A Comida (Irish Food)



Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir. 
Sentir tudo de todas as maneiras. 
Sentir tudo excessivamente, 
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas .

Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

Acho que ninguém imagina a Irlanda como um destino gastronómico. Pelo menos eu não conheço depoimentos de turistas a explicarem que foi a comida que os fez vir à Irlanda ou foi esta uma das melhores recordações da sua viagem. É verdade que as outras memórias são bastante impressivas, pelo que isso ajuda a perceber e a relativizar a importância da comida na mais ocidental da ilhas britânicas. Contudo eles comem e comem muito. É esta, de resto, a primeira nota a realçar. As doses são em geral generosas, a comida é substancial, farta e forte. Na maior parte dos casos, uma porção pedida num pub, dá à vontade para duas pessoas, o que ajuda a tornar acessível a maioria das refeições mesmo para os depenados portugueses.

Breakfast

O dia começa com o irish breakfast (foto de cima). Este segue de perto o modelo inglês: bacon, black pudding (um tipo de morcela) salsichas e ovo estrelado, A coisa pode ainda ser completada por torradas com manteiga ou doce, para alem do sumo de laranja e do café ou chá. Nada mal para começar, heim? Esta é a ementa típica servida tanto nos hotéis como nos cafés e bakeries para quem não tenha o pequeno almoço incluído na diária.Foi o que aconteceu connosco na nossa estadia em Dublin. Tivemos então oportunidade de ver os dubliners no seu habitat. E sim, eles comem isto tudo ao pequeno almoço. Pela nossa parte ao fim do terceiro dia já estávamos fartos de tanta salsicha e black pudding e foi um Starbucks (quem diria!) que nos reconciliou com um café com leite e um croissant.


Almoço

Ao almoço, curiosamente, a refeição é mais simples. Vi muitos locais comerem simplesmente uma sopa, uma sandes ou uma salada. As sopas foram uma surpresa, não pela sua diversidade - percebemos depois que  eram quase sempre as mesmas em todo o lado - mas pela sua presença universal. A mais comum é o famoso chowder, uma sopa habitual no norte da Europa e nos países saxóncios, de peixe e marisco, feita com natas. É saborosa, nutritiva e os pedaços de peixe e marisco não são escassos. O curioso é que qualquer sopa na Irlanda vem sempre acompanhada de duas fatias de um óptimo pão escuro (soda bread) com dois pacotes de manteiga. O pão e a manteiga não são o equivalente ao couvert em Portugal pois assim que acabas de despachar a sopa, o empregado tende a recolher o pão e a manteiga, ainda que não utilizados. Foi um choque cultural ver a reacçao deles quando lhe pedimos para manter o pão na mesa no resto da refeição!


Ao jantar

A refeição mais copiosa é o jantar, que aqui começa cedo para os nossos hábitos. Nem quero acreditar o que se passará com os vizinhos espanhóis, mas a nós avisaram-nos repetidas vezes para nunca chegar tarde ao restaurante, o máximo dos máximos, 7h30/8h00! A oferta, tirando dois casos especiais, em Galway e Kenmare, onde havia a possibilidade de caprichar um pouco e escolher hipóteses uma pouco mais sofisticadas, era em geral repetitiva. Se opção era carne, tinhamos a spare ribs (o equivalente ao nosso entrecosto com molho bbq) ou então o irish stew (guisado de carne e legumes), substancial mas pouco apelativo ao olhar, convenhamos.


Sendo a Irlanda uma ilha, é natural que o peixe fosse abundante e disponível em todo o lado. E é! o modo de preparação é que é monótomo: fish & chips para todos os gostos.Há a versão popular do dito que é servida nos pubs e há versões gourmet em estabelecimentos mais finos, como foi o caso de um em Kinsale, uma bonita cidade piscatória no sul. Ainda hoje estou para perceber a lógica de juntar peixe frito com batatas fritas mas o facto é que o prato é transversal e omnipresente em toda a Irlanda. Por baixo do polme (estaladiço, reconheço!) está um peixe branco indiferenciado. Tal como se vê na foto, os fritos são em geral acompanhados de um esmagado de ervilhas e de um molho tipo aioli. A coisa come-se uma vez para experimentar e fica-se enjoado para o resto da viagem.


Vivam os mercados de rua!

Não estaria a ser justo neste relato pseudo-gastronómico se não fizesse referência aos mercados, sobretudo aos mercados de rua. São uma festa para os olhos: as cores, as formas e os cheiros despertam os sentidos e é um gosto ver as bancas encherem-se de produtores locais que vêm expor os seus produtos hortícolas, os queijos, os pickles, as frutas. Apetece trazer tudo para casa e desforrar a barriga de misérias.

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

TripAdviser, provas cegas e o salve-se quem puder na internet

Que têm em comum as estimáveis casas de comida lisboetas que dão pelo nome de Bread4You, BA Wine Bar, Taberna Sal Grosso, Augusto de Lisboa e a Frangasqueira Nacional, com o consagrado Belcanto do chefe José Avillez? É fácil! Quem for à procura e quiser saber quais são os seis melhores restaurantes da cidade, segundo o ranking do TripAdviser (TA) no dia de hoje, depara-se com esta lista. E o Belcanto, apesar das suas duas estrelas Michelin, não está no topo.

Eu contra mim me confesso, Também consulto o TA. Sobretudo quando estou no estrangeiro ou quando visito uma região que ainda não conheço bem, quero acreditar que vou lá recolher preciosas dicas e alguma orientação. E ainda, indo mais fundo, já por diversas vezes cedi à tentação de deixar lá também a minha opinião. Só que depois olho para a lista dos lugares que conheço bem, como é o caso de Lisboa, e fico a pensar se nos outros sítios a lógica, ou a falta dela, é a mesma. E aí fico ligeiramente transtornado! É que sem querer por minimamente em causa a qualidade dos estabelecimentos que citei em cima e de cuja esmagadora maioria nunca tinha ouvido falar, rankings como este acabam por comparar o incomparável, misturam conceitos muito díspares, amalgamam segmentos irreconciliáveis e prestam-se a uma confusão sem emenda. São mesmos aqueles os melhores restaurantes de Lisboa? Para um turista gastrónomo que venha pela primeira à cidade e que se guie pela classificação do TA, e que por hipótese faça questão de percorrer os seis primeiros da lista, com que ideia fica da nossa oferta gastronómica?

Eu sei! À partida, até a mim a ideia seduz. Viva o poder popular! Viva a opinião do consumidor, livre de "interesses", descomprometida. Viva o registo daqueles que pagaram pelo seu bolso a refeição que comeram e que dão sobre ela a sua opinião. E passo por cima daquelas histórias que se ouvem de vez em quando acerca do concorrente do lado que aparece disfarçado de cliente a desancar no colega para lhe estragar a reputação. Deixo isso para lá! Cinjo-mo à pureza das opiniões honestas e isentas. Bastam estas para fazer um ranking credível? É lógico que não. É preciso muito mais que a soma das opiniões avulsas para ter uma seriação credível.

Algo parecido se passa no vinhos. Ainda recentemente um grupo de consumidores, entusiastas de uma determinada casta de origem estrangeira mas que está razoavelmente disseminada em Portugal, resolveram fazer uma prova cega pondo em confronto alguns vinhos portugueses com meia dúzia de vinhos estrangeiros. A conclusão foi arrasadora: Apesar da casta em questão ter ainda poucas décadas entre nós, os portugueses bateram toda a concorrência internacional. Daí para a conclusão fatal foi um ápice: temos os melhores vinhos do mundo! Temos?  Não gostaria de ferir o patriotismo de ninguém dizendo que este arrobo foi um tanto precipitado. Outro exemplo. Ainda hoje li no facebook os comentários sobre uma prova vertical (prova de todos os anos de colheita de uma mesma marca)  de vinhos do Douro. A marca em questão é prestigiada e os seus vinhos atingem um preço considerável no mercado. Parece que o grupo de provadores não ficou muito entusiasmado com a prova e logo um deles, proclamou alto e bom som para todo o mundo ouvir: a xxxx (nome da marca) "é uma treta"! É óbvio que se pode achar isso mas tal não transforma automaticamente o vinho em questão numa vulgaridade. Uma reputação não se desfaz assim!

Onde quero chegar com isto? Primeiro, antes que venham as pedras: toda a gente tem direito à sua opinião e de a manifestar publicamente. Cada uma delas vale tanto como a minha que também sou cliente de restaurantes e também compro e consumo vinhos. Mas o problema de hoje em dia, com a disseminação das opiniões, ampliadas pelas redes sociais, é que perdemos os filtros que anteriormente nos ajudavam a perceber o que era relevante do que não é. Na anarquia da internet, corremos o risco de tomar por igual o que não o pode ser. Se é verdade que há liberdade de expressão e essa é uma consequência da nossa vida em democracia, se é verdade que o consumidor tem sempre a última palavra na apreciação que faz de um bem, as avaliações, as críticas e a sua credibilidade não são todas iguais e aqueles que correm sempre atrás do último post correm o risco de parecer umas baratas tontas sem rumo nem tino. A liberdade  de cada um não pode fazer esquecer que a superficialidade da opinião instantânea pode fazer muito barulho mediático mas não é comparável à crítica fundamentada,
O leitor pode e deve ouvir todos mas deverá escolher com critério aqueles que procura para o orientar numa escolha conscienciosa.


quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Cinema: A propósito de uma "Diva"


À minha "mesa" também vêm frequentemente alguns filmes, ou não fosse eu também um  cinéfilo (embora nem sempre assumido). Fui ver este "Florence, Uma Diva Fora de Tom", sem maiores expectativas do que passar uns momentos divertidos com uma comédia inócua e sem grandes pretensões. Apesar, e este apesar deveria ter sido suficientemente ponderado, deste filme ter a assinatura de Stephen Frears e de contar com a interpretação de Meryl Steep, na minha modesta opinião, só a maior actiz viva, ponto. Como contraponto, percebi que também tinha o Hugh Grant que logo imaginei vir fazer o papel de Hugh Grant que ele faz em todos os filmes em que o tinha visto.

Saiu-me a coisa um pouco ao contrário. Nem o filme era inócuo, nem a comédia inconsequente e até, vejam lá, o Hugh Grant afinal mostrou ser um actor com nunca imaginei. Ele foi a grande surpresa do filme! Estamos em presença de uma comédia trágica, profundamente humana, na forma como apresenta as três personagens principais e as relações que estabelecem entre si: a diva amadora, o marido complacente e o pianista ingénuo. Interessante é que  o filme apresenta vários níveis de leitura capazes de agarrar tanto aqueles que se ficam pela piada fácil dos gritos histriónicos de Meryl Streep como aqueles que ficam tocados pelo drama humano que a sua personagem carrega. Durante grande parte do filme, convenci-me que esta tinha forçado na nota e roçado o burlesco. Mas nos créditos finais ficámos a ouvir trechos das gravações originais de Florence e percebi  mais uma vez que a actriz se transcendeu e absorveu completamente a figura retratada. Também pelo magnífico trabalho dos actores, o filme vale a pena.