quarta-feira, 6 de abril de 2016

Angola e os vinhos portugueses


A notícia do dia de que Angola solicitou um pedido de assistência financeira ao FMI, terá certamente um forte impacto na economia angolana e por extensão nas empresas portuguesas que actuam naquele país e em particular nas exportações de vinhos para aquele mercado.

Como é sabido, Angola foi nos últimos tempos o principal destino da vendas de vinhos portugueses ao estrangeiro e a quota de mercado que estes gozam no país atinge os 80%, um valor muito superior ao conseguido em qualquer outro destino.

A baixa significativa do preço do petróleo ocorrida nos dois últimos anos e a consequente quebra abupta das receitas daquele país lusófono fizerem contudo abalar os fundamentos de muitos negócios ao provocar uma grande escassez de divisas que permitiam o fluxo de pagamentos à compra dos bens importados. Muitas são por isso as empresas exportadoras que tiveram e têm grandes dificuldades em receber pagamentos dos fornecimentos efectuados e há muitas facturas por liquidar o que causará sérios problemas a muitos produtores que apostaram neste mercado.

Estou convencido que a intervenção do FMI agora anunciada, independentemente do montante do auxílio que será negociado, terá algumas consequências negativas a curto prazo pelo forte impacto que as habituais medidas recessivas desta instituição necessariamente acarretam, com a quebra do consumo, do investimento e a deterioração da confiança dos consumidores. Nós, portugueses, conhecemos de cor este filme e o que ele anuncia.

Mas por outro lado, e é este o ponto que gostaria de realçar, a intervenção do FMI poderá lançar em Angola um conjunto de medidas que terão efeitos muito positivos a médio e longo prazo, ao simplificar a burocracia, diversificar e racionalizar os recursos, combater a corrupção, modernizar a máquina do Estado e tornar a economia mais competitiva. Estou firmemente convencido que a médio prazo o mercado vai crescer e que surgirão novas oportunidades para os produtos portugueses consolidarem a sua presença. Se, e este "se" é crucial, se os nossos empresários souberem ou puderem resistir mais algum tempo, não abandonando o mercado e os consumidores angolanos que continuam a manifestar uma forte preferência pelos nossos vinhos. Seria uma pena, se por razões e dificuldades conjunturais, os vinhos portugueses atirassem borda fora a situação privilegiada que adquiriram naquele mercado e deixassem que outros, como os Sul-Africanos, ali ao lado, aproveitassem à mão cheia uma eventual debandada lusa. Há posições e vantagens que uma vez perdidas se tornam depois muito difíceis de recuperar.

A hora é de resistir mas o futuro tem tudo para voltar a ser risonho.

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